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''Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar".
William Shakespeare

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Minha crônica para a Olimpíada de Português.

Sucessão de dias
Olho no relógio... faltam apenas alguns minutos. Finalizo os últimos exercícios de matemática, e chega o momento tão aguardado: o sinal para o intervalo.
Dirijo-me à fila da cantina; todavia, "fila" é uma denominação por sua vez incorreta, pois não é isso que ocorre.
Aguardo pacientemente em meu respectivo lugar, mas logo percebo que, infelizmente, sou uma das únicas da minha escola que realiza tal proeza.
Estudantes astutos (porque não dizer corruptos?), que em vez de formarem fila e a respeitarem, vão em direção a seus colegas do começo da mesma, para se infiltrarem ali, sem pudor nenhum. O mais chocante é ver todos, aparentemente, fechando os olhos para este acontecimento.
Sentimento de inconformismo toma conta de meu corpo. Tento apaziguar minha revolta, olhando para o céu nublado, completamente acinzentado, mas não alivia nada, pois minha cidade - Joinville - é um encanto, mas o inverno não perdoa. Os dias são geralmente chuvosos.
Como se já não fosse suficiente, uma garota corta a fila, sim! Bem diante de mim! Não consigo resistir ao impulso e chamo sua atenção, indagando:
-- Com licença! Você está cortando a fila?!
-- Sim, querida! Estou cortando a fila!
E ainda com um sorriso de deboche, vira e sussurra:
-- Tola politicamente correta...
Respirei fundo.
Transcorrido algum tempo, comprei minha barra de cereal, como de hábito, mas mesmo assim, minha indagação era cruel com meu cérebro.
Paro para refletir sobre a cena decorrida. Minha cabeça estava na velocidade da luz, fazendo mil perguntas e, cada uma delas, provocando mais aversão àquela atitude incoerente para cidadãos em formação. Primeira indagação, dentre muitas, foi tentar verificar onde estavam todos os princípios éticos e morais daqueles estudantes. Claro que poderia creditar aquela atitude pueril à praticidade e à rapidez para poder aproveitar mais o pouco tempo disponível, mas isso equivale a ultrapassar os limites e a passar por cima dos direitos dos outros. Algo que deveria ser inadmissível!
Esse acontecimento me levou a compará-lo a outro episódio. Sabe aquela decrépita história do lixo no chão? Pois é! Mesmo sabendo que é incorreto e irá trazer prejuízo ao planeta, o indivíduo relapso ignora os princípios básicos estabelecidos e polui. Polui a vida e provoca a morte.
O intervalo acabou. Concluo meu raciocínio, percebendo que é por pequenos (será?) atos que vejo realmente quem é cada ser humano, tanto de meu pouco convívio direto, quanto daqueles que residem em minha vida. Medito, ainda... como vou denunciar minha angústia?

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